domingo, 13 de junho de 2010

Tristeza

Meu gatinho morreu.

Doeu,

Doeu,

Doeu.

A ROSA

Toda faceira, a menininha chegou da escola com uma rosa roubada de um jardim qualquer.

Ao invés de agradecer o singelo presente, a mãe disparou seu discurso ecológico-moralista contra a menina, que desatou a chorar.

Naquela noite, muito tristes, mãe e filha não conseguiram dormir direito.

Enquanto isso, a flor definhava no lixinho da cozinha.

O TOQUE

A mão delicada roçou, sem querer, o braço dele.

Um calafrio imediato percorreu sua espinha, desencadeando um quase torpor, que o levou às nuvens.

Que poder era aquele que havia no toque sutil, quase imperceptível, de uma desconhecida, ali em pé, a seu lado?

Nada sabia sobre a moça, mas não conseguia disfarçar o profundo interesse que agora ela lhe inspirava.

Seria capaz de segui-la até o fim do mundo, se preciso fosse, de lutar por ela, de se casar com ela.

Ofereceu-lhe o lugar, mas ela recusou com um sorriso encantador, de pérolas e rosas.

Ensaiou mentalmente algumas frase para iniciar uma conversa, mas achou todas banais.

Nervoso, derrubou a pasta que carregava e abaixou-se para pegá-la. Pôde, então, deleitar-se, por um instante, com a visão daqueles pés tão alvos, tão bem tratados!

Sorriu, novamente, para ela, endireitando-se, desajeitado, no banco.

Em seguida, tossiu algumas vezes e, quando ia, enfim, dizer alguma coisa, percebeu que ela se preparava para descer do ônibus.

Completamente imobilizado pela timidez, acompanhou, através do vidro embaçado, os passos rápidos e decididos daquela que, talvez, pudesse ter vindo a ser a mulher de sua vida.

Em casa, por uma bobagem qualquer, brigou com a esposa e gritou com os filhos.

Bons Ventos

Na praça, sob um céu especialmente azul, o engraxate aproveitava o momento de folga para fazer uma massagem improvisada nas costas de seu amigo jornaleiro.

Entre brincadeiras ruidosas, o grupo de garis, ao sol, ria muito, sabe-se lá do quê, enquanto compartilhava o minguado lanche.

Com grande camaradagem, o motorista de táxi, parado no ponto, orientava pacientemente a velha senhora a chegar ao endereço procurado.

A moça, que por ali caminhava, carregada de pacotes e problemas, viu-se, inesperadamente, tomada por um sentimento de imensa felicidade.

E, esquecendo-se de tudo o mais, por um instante sorriu, encantada com a vida.

MUITO ALÉM DA FLOR DA PELE

Andava, ultimamente, com o sentimento à flor da pele.
Bastava olhar para uma cena banal, ouvir uma frase, uma música ou mesmo um inocente comentário, que já se sentia profundamente tocada e deprimida.
Mulheres são assim mesmo, ouvia dizer.
Intimamente, porém, sabia que toda aquela sensibilidade não era normal.
Procurou ajuda terapêutica e descobriu que estava apaixonada.
E, pior, compreendeu que de nada adiantava investir naquele amor.
Ainda de quebra, desenterrou uns traumas de infância, escancarou a fragilidade de sua relação com o pai, deparou-se com a inveja que sentia da irmã, teve consciência de sua fraqueza de caráter e conseguiu enxergar a centena de ajustes que tinha de fazer com o mundo.
Achou mais fácil se deixar morrer.

Comportamentos

O menininho não parava quieto.

Quebrava quase todos os brinquedos, provocava os amiguinhos, pendurava-se na cortina da sala, descascava os rótulos dos potes de geléia e requeijão, transformava a correspondência em aviõezinhos, esfarelava as bolachas, rabiscava as paredes, desmontava os controles remotos...

Quando, naquela tarde, passou horas desenhando heróis imaginários, a professora, desconcertada, ligou para a mãe, que, preocupada, ligou para o pai, que, desesperado, ligou para o médico.

Mas, apesar dos adultos, o desenho ficou uma maravilha!

Vida honesta

Roubou um xampu no supermercado e foi para a cadeia.

Para a plena restauração da dignidade da empresa, ultrajada pelo furto, foi um tantinho torturada e acabou perdendo a visão.

A despeito do flagrante e de nem se tratar de crime famélico, a Justiça foi camarada, condenando-a, somente, a dois anos de prisão, após os quais foi libertada.

Logo que deixou o presídio, porém, já foi desperdiçando a chance que lhe deram de recomeçar uma vida honesta.

Morreu atropelada.

Descompassos

Por pouco não desfalecia de tanto cansaço!

Precisava agora só terminar de preparar a mamadeira; arrumar, para o dia seguinte, o lanche dos meninos e a mesa do café da manhã; trocar a água do cachorro; acabar de recolher os brinquedos espalhados; trancar todas as portas e janelas; cobrir os filhos mais velhos; alimentar o bebê; apagar as luzes; para, então, afundar-se na cama.

Enquanto se deitava, sem fazer barulho para não acordar o marido, repassou mentalmente as tarefas principais do dia seguinte: conversar com a orientadora pedagógica na entrada da escolinha; deixar o bebê no berçário; rever o relatório para a reunião com a filial do Rio de Janeiro; dar uma passadinha, na hora do almoço, no supermercado, para reabastecer a despensa e, no banco, para tirar o dinheiro da faxineira; alterar aquele parecer para incluir as alterações propostas pelo chefe; marcar consulta no pediatra; pesquisar, na biblioteca do escritório, uma saída para o caso da pasta verde; encher o tanque do carro; buscar as roupas na tinturaria; comprar papel-cartão e fitinha colorida para a capa do trabalhinho do dia dos pais; achar um tempo para fazer as unhas e...quem sabe...cortar o cabelo... mudar o visual...

Encolheu-se como sempre em seu cantinho e, meio indefinida, foi entrando, devagar, num imenso palco muito iluminado, onde, sozinha e vestida de bailarina, via-se dançando, sem parar, uma música difusa, para uma platéia lotada de diabinhos, todos com a mesma cara: a do seu marido.

Compassos

Uma sensação boa de manhã de sábado e música de passarinhos invadiu-lhe os olhos.
Demorou um pouco para se localizar, mas, ao vê-lo ainda dormindo a seu lado, sorriu enternecida.
Sem fazer barulho, começou a se levantar devagarinho, para se pôr bonita, comprar o jornal e preparar o café da manhã.
Porém, vendo vazio o braço estendido, deslizou novamente o corpo pela cama e, feliz, enrodilhou-se toda a seu amor.

E S M O L A S

Na porta da Igreja de Santo Antonio, virava e revirava várias sacolinhas de plástico escuro, abarrotadas sabe-se lá do quê.

Era uma senhorinha magrinha, mal cuidada e muito pobre, que, concentrada naquela tarefa, por pouco não derrubou a moça elegante e distraída que por ali passava.

Com um largo e simplório sorriso de poucos dentes,desculpou-se pela desatenção e, em troca, recebeu, seca e grosseiramente, uma moeda de um real.

Agradeceu com o rosto ainda mais iluminado:

-Deus te abençoe, filha! Sabe que eu estava mesmo atrás de uma moedinha para o donativo da missa das nove?

Medinhos

Vivia tendo chiliques ao se deparar com lagartixas, baratas ou inocentes besouros. Rãs e pererecas, então, nem pensar! A mera evocação era suficiente para lhe provocar gritinhos e calafrios.

Sempre precisava de uma luz acesa para dormir, impressionava-se muito com notícias tristes e tomava um monte de vitaminas e remedinhos caseiros.

Ao presenciar o acidente, naquela manhã, porém, não pensou duas vezes.

Meteu-se no meio das ferragens e conseguiu livrar a mulher. Ligou para o resgate, afastou os curiosos, tranqüilizou a família e ainda salvou o bebê.

Somente mais tarde, quando tudo já estava bem, percebeu que suas roupas estavam um pouco sujas de sangue.

Foi então que desmaiou.

Viagens

Para onde será que iriam todas aquelas pessoas?

Algumas tão apressadas e apreensivas! Outras, até tranqüilas demais. Homens e mulheres de todos os tipos e idades, bem vestidos ou descontraídos, carregados de bagagens ou despojados.

Gostava de ficar olhando o movimento do aeroporto, encantada com o mundo de possibilidades de enredos e desfechos que atribuía a cada um que encontrava pela frente.

Um dia, também ela queria partir para bem longe dali, como toda aquela gente.

Via-se em outros lugares, conhecendo novas pessoas, comendo do bom e do melhor, tentando decifrar linguagens engraçadas.

E, enquanto seus pensamentos voavam, continuava varrendo desatenta aquele enorme saguão de embarque e desembarque.

Algodão doce

Subitamente, sentiu uma enorme vontade de comer algodão doce.
Fechou, por um momento, os olhos e recuperou a imagem longínqua da criança feliz, esperando, maravilhada, o resultado daquela operação única, que transformava, magicamente, o açúcar em delicadas nuvens coloridas.
Sorriu de si mesma.
Por que isso agora? Quantos anos se passaram sem que nem se lembrasse da existência de algodão doce?
Chegava, porém, a sentir o cheiro adocicado e uma absurda necessidade de voltar a experimentar aquele sabor inesquecível.
Seria isso possível, outra vez? E, se fosse, teria ainda aquele mesmo encanto?
Talvez por imaginar que já sabia todas as respostas, decidiu não se fazer mais nenhuma pergunta.
E, com o gosto insosso de sempre na boca, continuou seu caminho.

Noitada

Dormiu com a televisão ligada e acordou com a cabeça fervilhando de idéias.

Porém, com exceção da consciência de que precisava fazer urgentemente um curso de inglês, nada se aproveitava.

Mudanças

Cansado da mediocridade, da rotina, da mesmice, ousou mudar.

Mudou de mulher, de casa, de amigos, de trabalho, de cidade.

No entanto, nos momentos de solidão, ainda era o mesmo homem triste de sempre.

Oportunidades

Chegaram ao mesmo tempo no enorme edifício de consultórios e escritórios.

Ela se desmanchou em sorrisos ao ver que aquele homem charmoso e atraente lhe deu a preferência para passar pela catraca, no hall de identificação.

Um clima de amável e discreta simpatia os envolveu até que entraram no elevador.

Porém, ali, a sós, a timidez prevaleceu, fazendo-a baixar os olhos e ocupar-se mecanicamente do envelope que segurava, enquanto ele, também em silêncio, continuava a observá-la.

As portas se abriram, enfim, no décimo sexto andar e ele desceu, esboçando um aceno de cabeça.

Desolada, ela desceu no décimo sétimo, com a sensação de havia desperdiçado mais uma oportunidade em sua vida.

Brinde

Antes de entrar na banheira de espuma, repassou mentalmente todos os detalhes.

As flores já estavam no vaso, mudara as velas do castiçal de prata e arrumara a mesa com a toalha branca de linho impecável.

Em vinte minutos de cálido repouso na água, sentiu-se renovada.

Depois, untou a pele, demoradamente, com óleo perfumado, penteou-se e vestiu-se apenas com o robe de seda vinho.

Ao som da música suave, desceu as escadas de sua casa com ar triunfante e distribuiu na mesa as iguarias preparadas.

Ergueu, então, prazerosamente, a taça de champagne e fez um brinde à sua solidão.

Telefonema

Ligou só para saber se estava tudo bem.

Ela se surpreendeu. Mais de um ano se passara sem nenhuma notícia! Achou que ele tivesse tomado outro rumo, se ajeitado na vida, quem sabe até se casado.

Como um menino arrependido, ele lhe disse, meio sem graça, que nunca a tinha esquecido, que reconhecia seu erro por sumir sem explicação e que até gostaria muito de reencontrá-la.

Foi o bastante.

Dormiu como uma rainha e, no dia seguinte, chegou toda perfumada ao encontro marcado.

Ele, porém, não apareceu.

Poder de Persuasão

Voltando do mercado, foi abordada, repentinamente, pelo homem baixinho, de bigode aparado e profundas olheiras, que lhe disse estar, enfim, diante da mulher de sua vida.

Aquilo não podia estar acontecendo com ela.

Rindo muito, disse-lhe que deveria estar enganado, pois era uma senhora casada, mãe de dois filhos, já moços!

Nenhum impacto essa informação pareceu causar nele, que seguiu dizendo-se profundamente impressionado com o brilho daqueles olhos e com sua incomparável sensualidade.

Enrubescida, ela retrucou, debilmente, que ele não poderia estar falando sério.

Mas o homem continuou, bendizendo o acaso que a colocara em seu caminho, discorrendo sobre almas gêmeas e vidas passadas e adivinhando, ainda, que ela era extremamente sensível.

Descobriu até que, nos últimos tempos, ela sentia-se sobrecarregada, desvalorizada, sozinha e carente!

Isso talvez explicasse o que estava fazendo ali, nos braços daquele desconhecido, em plena tarde de segunda-feira.

Nas mãos de Deus

Angustiada, a família aguardava, na sala de espera, o diagnóstico do renomado especialista.

Depois de muito tempo, o tal doutor, todo empertigado, despejou sobre aquela gente um palavrório incompreensível.

Ficaram sem saber direito se ainda havia esperança.

Por via das dúvidas, acharam que sim e juntaram mundos e fundos para pagar a arriscada cirurgia.

Abaixo de Deus estava o tal médico, tão cheio de si que parecia até discordar dessa classificação.

De nada adiantou tanto empenho. À família, endividada, restou, somentea consciência do dever cumprido. O paciente morreu, como já havia previsto o médico do ambulatório.

No táxi

O olhar fixo do motorista pelo espelho retrovisor a fazia estremecer.

Ela nunca se enganava. Desde que entrara no táxi, naquela noite chuvosa, percebera alguma coisa estranha no ar.

Pensou em ligar para a polícia, fantasiou cenas terríveis, despediu-se mentalmente de seus entes queridos.

Passados vinte minutos, pedindo a Deus que intercedesse por sua trágica sorte, percebeu que chegara a seu destino.

O estranho homem, então, recusou-se a receber pela corrida e, deixando rolar timidamente duas lágrimas, balbuciou emocionado que ela se parecia muito com sua falecida esposa.

Estrelas

Um dia, olharam juntos para a noite e envolveram-se num manto de estrelas.

Veio a vida e embaralhou seus destinos, lançando-os para o não-sei.

Estiveram em outros lugares, tiveram outros amores, fizeram outras promessas e juras.

E as estrelas, imprestáveis testemunhas, continuavam silenciosamente a brilhar.

Comunicaçao

A menininha não falava português.

Tampouco eu dominava sua língua.

Mas, quando me mostrou seu cavalinho, ela me sorria tão docemente que, sem pronunciar uma única palavra, disse-me tudo...

Mesa de bar

Naquela mesa de bar, compartilharam segredos.

Filosofaram sobre as agruras da vida e afogaram suas mágoas entre tragos e lágrimas.

Lá pelas tantas, abraçaram-se calorosamente e declararam-se amigos até a morte.

Depois, pagaram a conta e cada qual tomou seu rumo, sem saber ao menos um o nome do outro.

Tempo regulamentar

Sentia vontade de dizer não, mas acabava dizendo sim.

Sentia vontade de ir, mas acabava não indo.

Sentia que queria mais da vida, mas acabava dando-se por saciada.

Um dia, nada mais disse, nem foi mais a lugar algum.

E a vida deu-se por cumprida.

Fora de moda

Na preparação da festa de casamento da filha, descobriu que doces também seguiam a moda.

Foi até motivo de pilhéria, quando protestou por olho de sogra e beijinho de coco.

Agora, os doces modernos eram feitos com sementes de papoula, lascas de gengibre e até pimenta.

Credo!

Do jeito que as coisas andavam, daqui a pouco iriam abrir um museu gastronômico, com curiosidades no cardápio como coquetel de camarão, carne louca, canudinhos de maionese e picles espetados no abacaxi.

No trajeto, lembrou-se com saudades das delícias que povoaram sua infância: abacate batido com leite, mamão formosa com açúcar, goiabada com queijo, mingauzinho de maisena com canela, sagu.

E constatou que era o mundo que estava ficando fora de moda.

Fantasias

Ficou imaginando o que aquele homem bonito, de terno escuro, carregava na pasta preta.

Contratos internacionais? Dólares? Passagens áreas para Washington?

Mal sabia ela que dentro da maleta havia recortes de jornal, para a procura de emprego; uma prescrição médica para exames de laboratório e uma latinha, cuidadosamente embalada em plástico de supermercado, recheada do material solicitado

Serenidade

Ao dar-se conta de que se sentia completamente indiferente àquela pessoa, teve a certeza de que, enfim, sua vida alcançara um novo patamar.

O mais interessante é que toda aquela energia dispendida, ao longo de tantos anos, só serviram para lhe causar muita mágoa, uma úlcera e algumas rugas.

Ele, ao contrário, continuava indo muito bem, obrigado.

Riu dessa constatação e continuou dirigindo com tranqüilidade.

Fosse há um ano atrás, teria atropelado a velhinha que, sorridente, agradecia a passagem.

Bailarina

Na aula de balé, enquanto todas as meninas iam para a direita, ela ia para a esquerda.
Por mais que se esforçasse, não conseguia coordenar os movimentos como as demais.
No entanto, quando dançava, em frente ao espelho do quarto da mãe, sentia-se incomparavelmente bela.
Um dia, uma coleguinha lhe disse que ela dançava errado e que só atrapalhava as outras crianças.
Chorou amargamente até adormecer e acordou com uma vontade enorme de dançar.
Teve, então, certeza de que era, sim, uma bailarina.
As outras meninas que aprendessem com ela.

Entrevista de emprego

Quando tomou para si a responsabilidade pelo erro cometido por sua secretária, foi demitido da chefia da Diretoria Jurídica da empresa multinacional, após longos anos de trabalho e dedicação.

Nos meses seguintes, enfrentou sofrido processo de divórcio e paulatina perda de posição social.

Sem outra alternativa, trocou o apartamento nos jardins por um menorzinho, na periferia, e aplicou parte do dinheiro recebido para custear mais um curso de aperfeiçoamento em sua área de atuação.

Acabou vendendo, mais tarde, também o carro, mas, nem assim, rendeu-se à idéia de voltar a morar na casa dos pais.

Naquele dia, preparou-se como um adolescente para a entrevista, num misto de esperança e de certeza de que era a pessoa talhada para a vaga.

O diretor havia selecionado seu currículo dentre mais de cinqüenta candidatos e a conversa transcorria muito bem.

No entanto, a psicóloga, que a tudo acompanhava, achou-o um tantinho inseguro e já muito velho para o cargo.

Na semana seguinte, completaria 35 anos.

Expectativas

Na porta da escolinha, mães e domésticas espremiam-se, com alguma ansiedade, na tarefa de resgate às crianças, em meio ao trânsito complicado, mais ainda pela ação do guardinha, que ajudava o motorista da perua escolar a desviar dos obstáculos.

Discretamente, num ponto da calçada, ela aguardava o sinal, com o coração enternecido pela alegria adivinhada que aquela surpresa causaria em seu pequeno.

Sentia que, a despeito da cara feia de seu chefe, valera a pena ter saído mais cedo do trabalho para, como as outras mães que ali estavam, buscar pessoalmente seu filhinho querido.

Há quanto tempo vinha pensando em estar mais próxima dele, para brincarem um pouco mais, conversarem, desfrutarem, enfim, daquele tempo precioso de infância, que vinha se escoando tão depressa!

Ao distingui-lo, lá no fundo do corredor, tagarelando com os coleguinhas, não se conteve, gritando bem alto o nome da criança.

O menininho não escondeu sua decepção.

Queria mesmo era ir de perua, para usar o “game boy” de seu amiguinho no trajeto.

Fragilidades

Caminhava pelas ruas, sem saber para onde ia, guiada apenas pelas lembranças, que, nos dois últimos anos, alternavam-se entre o mel e o fel.
Não era fácil romper com aquele amor, impregnado até suas entranhas, mas não havia outra coisa a fazer.
Já não sentia os próprios pés e nem mais se importava que lhe vissem esbanjando lágrimas.
As pessoas que por ela passavam tampouco faziam caso de sua dor.
Apenas o garoto, que vendia balas no sinal, ficou longamente a observá-la.
Por um momento, deixou seu ofício e passou a caminhar, silenciosamente, ao lado dela.
Na primeira oportunidade, levou-lhe também a bolsa.

Goiabas

A goiabinha mordida, largada displicentemente naquela mureta, abriu-lhe, de imediato, as portas para o quintal de sua infância.

Via-se lá, trepada na arvorezinha engrossada pelo tempo, a escolher as frutas mais arredondadas e maduras. Difícil tarefa, considerando-se a acirrada concorrência dos pássaros, irmãos mais velhos e outros moleques da vizinhança, todos, inegavelmente, mais ágeis e habilidosos.

Restavam-lhe as goiabas quase inatingíveis, dos galhos mais altos e delicados, apenas alcançados por meio de inacreditáveis malabarismos, que lhe renderam muitos tombos e cicatrizes.

Mas nem joelhos e cotovelos ralados, nem choros doídos e frustrações sufocadas, conseguiam deter sua busca pela fruta escolhida.

E, uma vez alcançada, nada se comparava ao prazer de colhê-la com inigualável precisão, olhá-la, demoradamente, com admiração triunfal e, por fim, cravar-lhe a almejada mordida.

Muitas vezes, a fruta estava bichada ou nem era tão boa quanto se imaginava. Outras, ela já se fartara tanto pelo caminho, que não agüentava chegar à segunda dentada. Mas não era isso que importava.

Sua alegria estava em atingir o ponto almejado.

Do alto daquela árvore de lembranças, ficou um momento a olhar para sua vida.

E descobriu, satisfeita, que continuava a colher goiabas.

Direções

Percebeu que, lá no fundo do vagão, o homem charmoso, de pulover azul, não parava de observá-la.

Num gesto de timidez quase coquete, ajeitou os cabelos e baixou os olhos, satisfeita.

Era muito bom saber que ainda provocava olhares, em plena maturidade.

Quando desceu na estação de sempre, ela notou, com o coração palpitante, que o sujeito tomara a mesma direção.

Fingindo desinteresse, tratou de controlar os passos, cadenciadamente, até deter-se, no aguardo do sinal de pedestres.

O homem aproximou-se de mansinho e, oferecendo-lhe um cartão, disse a ela, sem nenhuma cerimônia:

- Tia, quando precisar de cortinas, almofadas, capas para sofá, reforma de estofados em geral, dá uma ligadinha para a gente, tá?

E, sorridente, ele continuou seu caminho.

Construção

O mulherão glamoroso e semi-nu ali exposto quase o deixou sem fala.

Era aquela artista da novela das oito, que, da noite para o dia, virara capa de revista.

E tinham de colocar aquele imenso cartaz bem ali, em frente à obra? Agora, sim, seria perigoso cair dos andaimes.

Com a atenção voltada, por inteiro, para o painel que acabara de ser instalado do outro lado da rua, abriu, sem nenhum interesse, a marmita cuidadosamente preparada por sua mulher e começou a sonhar.

Limpezas

Pousou o garfo sobre o prato e baixou o olhar.
O insuportável silêncio que se instalou à mesa denunciava que ele não estava brincando.
Como era possível, meu Deus, depois de tanto tempo, imaginar-se sem ele?
No restaurante, as pessoas ao redor sorriam e conversavam alegremente, alheias ao sufocante turbilhão prestes a explodir em sua garganta.
Quando, mecanicamente, procurou algo para levar à boca, o copo de vinho inundou-lhe a roupa clara.
Sozinha, no toillete feminino, enquanto tentava, sob a água corrente, recuperar a blusa manchada, deu-se conta de que suas lágrimas, por mais copiosas que fossem, eram infinitamente insuficientes para lavar aquela dor.

Resgate

Pela manhã, ao se olhar no espelho, admitiu que, a cada dia, ficava mais parecida com ela.

A expressão tranqüila e os vincos no rosto, moldados pelos anos, imprimiam-lhe o mesmo ar de sabedoria e segurança.

Lembrou-se, imediatamente, de como era bom brincar com o pote de botões de todas as cores, formatos e tamanhos e com linhas, dedais e retalhos da caixinha de costura de madeira forrada com tecido púrpura.

Ah! E as infinitas descobertas nas caixas de papelão, guardadas nas gavetas com cheiro de naftalina? Echarpes de seda; livros de oração, com páginas estufadas por flores secas; apliques de renda; vidrinhos coloridos de perfume já vazios; cartas amareladas escritas a pena e até o fascinante baralho italiano de tarô.

Eram objetos sagrados e proibidos, que a curiosidade infantil não conseguia respeitar.

Ainda no espelho, perfumou-se toda de alfazema e sorriu satisfeita.

A seguir, desceu as escadas, exultante, e foi consultar o velho livro de receitas da avó.

Naquele dia, seus netos comeriam bolinhos de chuva.

Naturezas

Enquanto o gato dormia, o cachorro corria atrás do próprio rabo.

Ambos conviviam há anos pacificamente e o estabanado cão, nem de longe, abalava a placidez felina.

Cecília, amuada, observava os animais que, na maior felicidade, simplesmente exercitavam sua maneira de ser.

Desviou, então, o olhar para o marido que ressonava, refestelado na poltrona.

Não teve outra alternativa. Pegou a bolsa, passou um batonzinho e foi sozinha para o shopping.

Comparações

Ele dirigia o carrão, achando-se o tal.

Quando o sinal fechou, a mocinha, da janela do ônibus, suspirava.

Algum dia teria um carro como aquele, uma situação social como aquela, um namorado como aquele?

Imediatamente, pensou em Vladimílson.

Na noite anterior, ele estava especialmente carinhoso. Chegou em sua casa com um pote de doce de leite e lhe falou de seus planos para o futuro. Queria juntar dinheiro, casar-se com ela, ter filhos.
Ainda um instante, ela olhou para aquele homem bonito, antes que ele arrancasse a toda velocidade.

Vladimílson, pelo menos, não ficava tirando meleca do nariz.

Visita

Ainda bem que não chovia naquela manhã.

Ao levantar-se da cama, deu-lhe bom dia em pensamento, beijou-o no porta-retrato do criado-mudo e tratou de se arrumar.

Era de sua natureza. Queria estar sempre bonita e perfumada. Mais, ainda, naquele dia doze, data tão especial!

No caminho, sorria das lembranças boas e afastava as más. Ah! Como gostaria que estas não existissem!

Quando, enfim, chegou, ficou longamente a olhá-lo ali, em silêncio, e, depois, com o carinho de sempre, ajeitou as flores na sepultura e começou a lhe contar como fora sua semana.

Animais

No vagão do metrô, divertia-se com a fisionomia das pessoas.
O velhote que cochilava lembrava-lhe muito um urso de pelúcia e a moça ao lado, com seus enormes olhos pacatos, era uma ovelha perfeita.
No banco da frente, o japonês era um peixe. Só faltava borbulhar.
Já a executiva de tailleur, com seus cabelos loiríssimos frisados, parecia um poodle, recém saído do pet shop.
Podia-se jurar que a austera senhora era uma ave. Uma águia ou um tucano?
E o Office boy, que não parava de mudar de assento, denunciava facilmente sua natureza símia.
Por um instante, pôs-se a pensar em que bicho ele próprio seria, mas não conseguia se imaginar nenhum.
A resposta veio somente à noite, com um beliscão da namorada.
Foi chamado expressamente de galinha.

O Capeta

Ao desembrulhar o bombom, o menininho colocou o papel, com invejável rapidez, no capuz do casaco do irmãozinho.

A reação foi imediata e chorosa:

- Manheeeê! Olha o "Fabo otra veiz"!

Descontrolada, a mãe deu um tabefe no mais velho e ralhou:

- Fabinho! Deixa teu irmão em paz! Que inferno!

Só então deu-se conta de que se encontrava na sala de espera do consultório e tratou de se justificar com a moça sentada a seu lado:

- Esse menino é o capeta. Não me dá sossego um minuto.

A moça simplesmente sorriu e, olhando com simpatia para a lágrima que rolava naquele rostinho inocente, ficou imaginando como seria um anjinho de chifres.

Ninguém é perfeito

Ninguém, antes dele, a tratara com tanta delicadeza e amor.
Flores inesperadas, presentes em profusão, palavras de carinho, provas de dedicação, tudo para fazê-la sentir-se uma verdadeira princesa.
Ria de suas graças e não se cansava de dizer que não havia mulher como ela.
Charmoso e maduro, de aparência interessante e ótima condição social, ainda adorava dançar, freqüentar bons restaurantes e viajar.
Para completar, era atencioso e gentil para com toda sua família.
Pena que escrevia jeito com gê!

Álbum de Família

Na foto de família, todos estão sorrindo, menos o bebê, que hoje é médico numa aldeia de índios.

A menina, ainda novinha, casou-se com um militar reformado e foi morar no Sul.

Logo que a filha se casou, a mãe acabou partindo com o dono da locadora.

Alcoólatra e desempregado, o irmão mais velho mal conseguia acompanhar, ontem, o enterro do pai, consumido pelo câncer.

Só a avó, com Alzheimer, continua com o mesmo sorriso.

Desnutrição

A moça remexia desanimada as folhinhas de agrião em seu magro prato de salada.

Há dois anos não emplacava um namorado. Sabia que não era feia. Pelo contrário. Cuidava, com afinco, de sua aparência, malhando todos os dias, privando-se de calorias e gastando quase dois terços de seu salário em roupas e comésticos.

Foi então que, esperançosa, avistou o bonitão de terno e gravata que, por vezes, freqüentava o restaurante.

Desta vez, ele parecia esperar alguém, que, em menos de cinco minutos, chegou.

Totalmente embevecido, o homem apressou-se em receber a mulher de meia idade, de carnes e sorrisos fartos e, em invejável enlevo, puseram-se a trocar olhares de explícita felicidade, entremeados de discretos toques de carinho e pequenas gentilezas.

Tudo neles transpirava prazer e encantamento, alegre e avidamente comemorados com chope gelado, filé à parmegiana e uma generosa porção de batatas fritas.

Sentindo-se desnutrida, a moça afastou lentamente o prato repleto de talos verdes e pediu ao garçom um "sunday" de chocolate.

Sedução

Enquanto esperava o sinal abrir, ela percebeu que aquele homem oferecia, sem dizer uma palavra, toda sorte de bonequinhos infláveis, flâmulas e canequinhas com distintivos de times de futebol.

Eram objetos sem nenhuma utilidade e de extremo mau gosto, ali promovidos, única e silenciosamente, pelo largo sorriso de dentes alvíssimos e pelo olhar de doçura ímpar, a iluminar, ainda mais, aquelas lustrosas bochechas negras.

A buzina do carro de trás não demorou a apressar a bizarra negociação e a moça, mais que depressa, arrematou três garotas superpoderosas vestidinhas com a camiseta do Corínthians.

Acabou em pizza

Já era demais a demora.

Mais de 50 minutos para entregar uma pizza meia "mozzarella", meia calabresa!

A voz atordoada, do outro lado, explicou que o entregador acabara de sofrer um acidente fatal.

Com redobrado mau humor, quis saber quanto tempo ainda teria de esperar e aproveitou para pedir também um refrigerante de dois litros.

Vocação

Enquanto preparava o cachorro quente do rapaz de terno, na movimentada avenida central, o engenheiro pensava na última dívida prestes a saldar.

Quem sabe, em breve, até trocaria de carro?

Sua barraquinha era um primor e ele, esbanjando habilidade e dedicação, lidava com salsichas e mostarda como se fossem trenas e esquadros.

Só lhe faltava ser feliz.

Queria ser músico.

Descaminhos

Tensos e apressados, pai e mãe arrastavam o menininho pelas mãos.

Ele acompanhava com esforço o rumo pelo qual o conduziam, com as perninhas trôpegas.

Seus olhos, no entanto, seguiam lentamente o alegre cãozinho que via nas nuvens.

Por isso, caminhava sorrindo.

Para nunca mais

Entrou, sorrateiramente, esgueirando-se pelas paredes.

Na passagem pelo corredor derrubou, desajeitado, o quadro da parede.

Praguejou entre os dentes, na certeza de que a tinha acordado.

Ainda titubeou, antes de abrir a porta do quarto, preparando-se para o choro e as lamúrias de sempre.

Só quando se deitou na cama, percebeu que ela não estava lá.

Para nunca mais.

Esperando pela festa

Vestiu o pretinho básico de sempre e descobriu que, sozinha, não conseguia fechá-lo nas costas.

Também não pôde colocar, com apenas uma das mãos, a pulseirinha de pérolas que usava com o vestido verde de seda.

Uma leve nostalgia começou a brotar.

Lentamente, retirou da gaveta a velha camiseta florida, olhou-se no espelho e sorriu satisfeita.

Espalhou-se devagar na cama onde, por tanto tempo, dormira encolhida e, fixando o teto, começou a gargalhar.

Bom dia

Deu bom-dia ao espelho.

Ali estava ela, fiel amiga, no diálogo mudo de todas as horas.

Até que não estava mal: ainda de pé, ainda sorrindo, ainda sonhando.

Conferiu-lhe os traços, os sulcos, os dentes e, zombeteira, agitou os braços.

Foi plenamente correspondida.

Nos últimos tempos, depois que os filhos cresceram, passaram a se conhecer cada vez melhor.

Acolhiam-se, faziam planos, trocavam confidências e receitas, divertiam-se, fazendo comentários irônicos ou engraçados acerca de tudo e de todos!

Cumplicidade total.

Esse era, no momento, seu grande amor.

Essa, a mulher que, ao longo dos anos, aprendera a respeitar.

Olhou-a longamente, num misto de admiração e ternura.

Depois, ajeitou-lhe os cabelos e, sentindo-se melhor do que nunca, convidou-a para o café da manhã.

Morte anunciada

Nos dias ímpares, tomava, em jejum, chá de boldo. Nos pares, água morna com limão.

Fazia bem ao fígado e desintoxicava o sangue...

Quarenta e cinco minutos depois, e meia hora antes da papa de aveia com alfafa, administrava, sob a língua, uma colherzinha de geléia real.

Não comia carne de espécie alguma, há mais de vinte anos.

E, desde então, alimentava-se apenas de grãos, cereais e vegetais orgânicos, mastigados cem vezes, antes de engolidos.

Bebia três litros de água magnetizada por dia, sendo um copo a cada meia hora.

E, todas as tardes, comia ao menos três frutas, mas sempre três horas após o almoço, para não atrapalhar a digestão.

Açúcar? Nem pensar...

Fazia bochechos diários com óleo de gergelim, prensado a frio.

E, de manhã e à noite, alternava compressas quentes e geladas sobre o corpo, para ativar a circulação.

Caminhava, ao menos, duas horas por dia.

Fazia massagens e meditação.

Também não fumava, não bebia, dormia cedo e jamais chegara perto de qualquer droga.

Engasgou-se, inexplicavelmente, hoje, pela manhã, com uma migalha de pão integral.

Mas morreu na mais perfeita saúde...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

DELÍRIO

Delicado
Enfeite.
Lua
Inteira
Raia
Iluminando
Ondas

terça-feira, 13 de abril de 2010

Tic Tac Existencial

...
Sou?
Não sou?
Vou?
Não vou?
Sou?
Não sou?
Vou?
Não vou?
Sou?
Não sou?
Vou?
Não vou?
...

domingo, 11 de abril de 2010

Domingo de festa.

.
Não era aniversário de ninguém.
Nenhuma data especial.
Mas a família toda se reuniu para o almoço, como nos velhos tempos.
E foi uma festa!
.

sábado, 10 de abril de 2010

Pelo Centro...



Hoje, passeei meus passos por caminhos conhecidos.
E pousei meus olhos onde nunca vi.
A cidade, vazia de pressa, estava mergulhada na simplicidade de um cenário.
Dava até para se ver o céu. Azul, azul!
Os prédios, em seus mais variados estilos, misturavam, pacificamente, o feio e o belo, ressaltando cores ocultas.

Entrei em várias igrejas. Algumas que jamais imaginei existirem aqui!
Nossa Senhora da Boa Morte, me transportou a Paraty. Ou a Ouro Preto? Os santos, assustadoramente coloniais, com cabelos humanos sobre o cetim colorido. Teto pintado na madeira desbotada. E pequenos altares laterais com ares de luxo emprestado.
Um arrepio percorreu-me o corpo. Incomoda-me o silêncio das velhas igrejas. Penso em tantos que antes ali estiveram, cheios de fé e de sonhos, como eu.

Na antiga Rua da Forca, vi crianças brincando. Na Rua do Tesouro, mendigos enrolados em seus cobertores pardos tentavam dormir pelas calçadas.
Na rua do Carmo, uma boneca velha, pendurada num fio de eletricidade, dançava semiviva ao som do vento.

Um homem de meia idade passou de mãos dadas com a namorada desengonçada, de cabelos ainda úmidos. Ele carregava um guarda chuva marrom comprido, que ia batendo pelas paredes dos prédios e postes, como a conferir um a um.

As portas dos estabelecimentos estavam cerradas, mas havia um bar aberto, com um rádio sobre o balcão, tocando uma música brega, que me deu vontade de dançar.

Ao longe, um cachorro magrinho e, mais adiante, um homem puxando uma carroça.

Um sentimento imenso de ternura me desvendava outra São Paulo, de poesia esparramada sobre o concreto cinzento.
Não tive mais medo de andar por ali...

Voltei para casa de metrô.
E feliz!


(Rabisco feito durante passeio pelo Centro de São Paulo, na tarde deste sábado)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Segredo

...

Tudo já havia sido dito e era insuficiente.
Ela dialogava com paredes e botões.
Fechava-se em espiral e expandia-se para além dos ventos.
Preenchia todos os espaços, milimetricamente, com seu segredo.
E, nos momentos silenciosos, que eram quase todos, sonhava.
Às vezes, ruborizava.
Noutras, apenas sorria.
Tinha alma de menina.
Tinha cheiro de mulher...

.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Recomeçando...



A partir de hoje, saio do blog, que mantinha com este mesmo nome, pela UOL, e venho para cá.

Deixo aqui o endereço, caso tenham curiosidade de visitar meus textos antigos:


http://izilda-bichara.blog.uol.com.br/


Apesar de haver ali alguns textos que detesto, não tenho coragem de deixar perdidos no universo virtual outros de que gosto e os comentários que tanto significam para mim.

Não sei se conseguirei manter este blog com a desejável regularidade de postagens.
Sei apenas que do vício de escrever não consigo abdicar.
Nem quero.
Por isso, insisto.