tag:blogger.com,1999:blog-63890190528786215832024-03-19T13:03:47.998-07:00Escritos Esparsos" Já que se há de escrever que, pelo menos, não se esmaguem - com palavras - as entrelinhas."
Clarice LispectorIZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.comBlogger59125tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-5165864732911646842010-06-13T20:09:00.002-07:002010-06-13T20:10:10.729-07:00TristezaMeu gatinho morreu.<br /><br />Doeu,<br /><br />Doeu,<br /><br />Doeu.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-20111356503906210252010-06-13T20:09:00.001-07:002010-06-13T20:09:19.369-07:00A ROSAToda faceira, a menininha chegou da escola com uma rosa roubada de um jardim qualquer.<br /><br />Ao invés de agradecer o singelo presente, a mãe disparou seu discurso ecológico-moralista contra a menina, que desatou a chorar.<br /><br />Naquela noite, muito tristes, mãe e filha não conseguiram dormir direito.<br /><br />Enquanto isso, a flor definhava no lixinho da cozinha.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-75518472759910073852010-06-13T20:06:00.002-07:002010-06-13T20:08:06.391-07:00O TOQUEA mão delicada roçou, sem querer, o braço dele.<br /><br />Um calafrio imediato percorreu sua espinha, desencadeando um quase torpor, que o levou às nuvens.<br /><br />Que poder era aquele que havia no toque sutil, quase imperceptível, de uma desconhecida, ali em pé, a seu lado?<br /><br />Nada sabia sobre a moça, mas não conseguia disfarçar o profundo interesse que agora ela lhe inspirava.<br /><br />Seria capaz de segui-la até o fim do mundo, se preciso fosse, de lutar por ela, de se casar com ela. <br /><br />Ofereceu-lhe o lugar, mas ela recusou com um sorriso encantador, de pérolas e rosas.<br /><br />Ensaiou mentalmente algumas frase para iniciar uma conversa, mas achou todas banais.<br /><br />Nervoso, derrubou a pasta que carregava e abaixou-se para pegá-la. Pôde, então, deleitar-se, por um instante, com a visão daqueles pés tão alvos, tão bem tratados!<br /><br />Sorriu, novamente, para ela, endireitando-se, desajeitado, no banco.<br /><br />Em seguida, tossiu algumas vezes e, quando ia, enfim, dizer alguma coisa, percebeu que ela se preparava para descer do ônibus.<br /><br />Completamente imobilizado pela timidez, acompanhou, através do vidro embaçado, os passos rápidos e decididos daquela que, talvez, pudesse ter vindo a ser a mulher de sua vida.<br /><br />Em casa, por uma bobagem qualquer, brigou com a esposa e gritou com os filhos.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-16819455714990341282010-06-13T20:06:00.001-07:002010-06-13T20:06:31.888-07:00Bons VentosNa praça, sob um céu especialmente azul, o engraxate aproveitava o momento de folga para fazer uma massagem improvisada nas costas de seu amigo jornaleiro.<br /><br />Entre brincadeiras ruidosas, o grupo de garis, ao sol, ria muito, sabe-se lá do quê, enquanto compartilhava o minguado lanche.<br /><br />Com grande camaradagem, o motorista de táxi, parado no ponto, orientava pacientemente a velha senhora a chegar ao endereço procurado.<br /><br />A moça, que por ali caminhava, carregada de pacotes e problemas, viu-se, inesperadamente, tomada por um sentimento de imensa felicidade.<br /><br />E, esquecendo-se de tudo o mais, por um instante sorriu, encantada com a vida.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-14778658412028789832010-06-13T20:05:00.001-07:002010-06-13T20:05:48.021-07:00MUITO ALÉM DA FLOR DA PELEAndava, ultimamente, com o sentimento à flor da pele.<br />Bastava olhar para uma cena banal, ouvir uma frase, uma música ou mesmo um inocente comentário, que já se sentia profundamente tocada e deprimida.<br />Mulheres são assim mesmo, ouvia dizer.<br />Intimamente, porém, sabia que toda aquela sensibilidade não era normal.<br />Procurou ajuda terapêutica e descobriu que estava apaixonada.<br />E, pior, compreendeu que de nada adiantava investir naquele amor.<br />Ainda de quebra, desenterrou uns traumas de infância, escancarou a fragilidade de sua relação com o pai, deparou-se com a inveja que sentia da irmã, teve consciência de sua fraqueza de caráter e conseguiu enxergar a centena de ajustes que tinha de fazer com o mundo.<br />Achou mais fácil se deixar morrer.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-14110785265814955992010-06-13T20:04:00.001-07:002010-06-13T20:04:33.206-07:00ComportamentosO menininho não parava quieto.<br /> <br />Quebrava quase todos os brinquedos, provocava os amiguinhos, pendurava-se na cortina da sala, descascava os rótulos dos potes de geléia e requeijão, transformava a correspondência em aviõezinhos, esfarelava as bolachas, rabiscava as paredes, desmontava os controles remotos...<br /> <br />Quando, naquela tarde, passou horas desenhando heróis imaginários, a professora, desconcertada, ligou para a mãe, que, preocupada, ligou para o pai, que, desesperado, ligou para o médico.<br /> <br />Mas, apesar dos adultos, o desenho ficou uma maravilha!IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-2785983071639293852010-06-13T20:03:00.001-07:002010-06-13T20:03:30.550-07:00Vida honestaRoubou um xampu no supermercado e foi para a cadeia.<br /> <br />Para a plena restauração da dignidade da empresa, ultrajada pelo furto, foi um tantinho torturada e acabou perdendo a visão.<br /> <br />A despeito do flagrante e de nem se tratar de crime famélico, a Justiça foi camarada, condenando-a, somente, a dois anos de prisão, após os quais foi libertada.<br /> <br />Logo que deixou o presídio, porém, já foi desperdiçando a chance que lhe deram de recomeçar uma vida honesta.<br /> <br />Morreu atropelada.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-17462077835427579972010-06-13T20:02:00.001-07:002010-06-13T20:02:52.039-07:00DescompassosPor pouco não desfalecia de tanto cansaço!<br /> <br />Precisava agora só terminar de preparar a mamadeira; arrumar, para o dia seguinte, o lanche dos meninos e a mesa do café da manhã; trocar a água do cachorro; acabar de recolher os brinquedos espalhados; trancar todas as portas e janelas; cobrir os filhos mais velhos; alimentar o bebê; apagar as luzes; para, então, afundar-se na cama.<br /> <br />Enquanto se deitava, sem fazer barulho para não acordar o marido, repassou mentalmente as tarefas principais do dia seguinte: conversar com a orientadora pedagógica na entrada da escolinha; deixar o bebê no berçário; rever o relatório para a reunião com a filial do Rio de Janeiro; dar uma passadinha, na hora do almoço, no supermercado, para reabastecer a despensa e, no banco, para tirar o dinheiro da faxineira; alterar aquele parecer para incluir as alterações propostas pelo chefe; marcar consulta no pediatra; pesquisar, na biblioteca do escritório, uma saída para o caso da pasta verde; encher o tanque do carro; buscar as roupas na tinturaria; comprar papel-cartão e fitinha colorida para a capa do trabalhinho do dia dos pais; achar um tempo para fazer as unhas e...quem sabe...cortar o cabelo... mudar o visual...<br /> <br />Encolheu-se como sempre em seu cantinho e, meio indefinida, foi entrando, devagar, num imenso palco muito iluminado, onde, sozinha e vestida de bailarina, via-se dançando, sem parar, uma música difusa, para uma platéia lotada de diabinhos, todos com a mesma cara: a do seu marido.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-92086942221059455552010-06-13T20:01:00.001-07:002010-06-13T20:01:40.497-07:00CompassosUma sensação boa de manhã de sábado e música de passarinhos invadiu-lhe os olhos.<br />Demorou um pouco para se localizar, mas, ao vê-lo ainda dormindo a seu lado, sorriu enternecida.<br />Sem fazer barulho, começou a se levantar devagarinho, para se pôr bonita, comprar o jornal e preparar o café da manhã.<br />Porém, vendo vazio o braço estendido, deslizou novamente o corpo pela cama e, feliz, enrodilhou-se toda a seu amor.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-2465579105540400032010-06-13T20:00:00.001-07:002010-06-13T20:00:58.037-07:00E S M O L A SNa porta da Igreja de Santo Antonio, virava e revirava várias sacolinhas de plástico escuro, abarrotadas sabe-se lá do quê.<br /><br />Era uma senhorinha magrinha, mal cuidada e muito pobre, que, concentrada naquela tarefa, por pouco não derrubou a moça elegante e distraída que por ali passava.<br /><br />Com um largo e simplório sorriso de poucos dentes,desculpou-se pela desatenção e, em troca, recebeu, seca e grosseiramente, uma moeda de um real. <br /><br />Agradeceu com o rosto ainda mais iluminado:<br /><br />-Deus te abençoe, filha! Sabe que eu estava mesmo atrás de uma moedinha para o donativo da missa das nove?IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-10498394492558206222010-06-13T19:59:00.001-07:002010-06-13T19:59:52.304-07:00MedinhosVivia tendo chiliques ao se deparar com lagartixas, baratas ou inocentes besouros. Rãs e pererecas, então, nem pensar! A mera evocação era suficiente para lhe provocar gritinhos e calafrios.<br /> <br />Sempre precisava de uma luz acesa para dormir, impressionava-se muito com notícias tristes e tomava um monte de vitaminas e remedinhos caseiros.<br /> <br />Ao presenciar o acidente, naquela manhã, porém, não pensou duas vezes.<br /> <br />Meteu-se no meio das ferragens e conseguiu livrar a mulher. Ligou para o resgate, afastou os curiosos, tranqüilizou a família e ainda salvou o bebê.<br /> <br />Somente mais tarde, quando tudo já estava bem, percebeu que suas roupas estavam um pouco sujas de sangue.<br /> <br />Foi então que desmaiou.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-56884972663793398812010-06-13T19:58:00.000-07:002010-06-13T19:59:16.177-07:00ViagensPara onde será que iriam todas aquelas pessoas?<br /><br />Algumas tão apressadas e apreensivas! Outras, até tranqüilas demais. Homens e mulheres de todos os tipos e idades, bem vestidos ou descontraídos, carregados de bagagens ou despojados.<br /><br />Gostava de ficar olhando o movimento do aeroporto, encantada com o mundo de possibilidades de enredos e desfechos que atribuía a cada um que encontrava pela frente.<br /><br />Um dia, também ela queria partir para bem longe dali, como toda aquela gente.<br /><br />Via-se em outros lugares, conhecendo novas pessoas, comendo do bom e do melhor, tentando decifrar linguagens engraçadas.<br /><br />E, enquanto seus pensamentos voavam, continuava varrendo desatenta aquele enorme saguão de embarque e desembarque.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-46285835771860225972010-06-13T19:57:00.000-07:002010-06-13T19:58:18.655-07:00Algodão doceSubitamente, sentiu uma enorme vontade de comer algodão doce.<br />Fechou, por um momento, os olhos e recuperou a imagem longínqua da criança feliz, esperando, maravilhada, o resultado daquela operação única, que transformava, magicamente, o açúcar em delicadas nuvens coloridas.<br />Sorriu de si mesma.<br />Por que isso agora? Quantos anos se passaram sem que nem se lembrasse da existência de algodão doce?<br />Chegava, porém, a sentir o cheiro adocicado e uma absurda necessidade de voltar a experimentar aquele sabor inesquecível.<br />Seria isso possível, outra vez? E, se fosse, teria ainda aquele mesmo encanto?<br />Talvez por imaginar que já sabia todas as respostas, decidiu não se fazer mais nenhuma pergunta.<br />E, com o gosto insosso de sempre na boca, continuou seu caminho.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-64436010623678835342010-06-13T19:55:00.000-07:002010-06-13T19:56:00.660-07:00NoitadaDormiu com a televisão ligada e acordou com a cabeça fervilhando de idéias.<br /><br />Porém, com exceção da consciência de que precisava fazer urgentemente um curso de inglês, nada se aproveitava.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-92018866876861762412010-06-13T19:54:00.002-07:002010-06-13T19:55:12.727-07:00MudançasCansado da mediocridade, da rotina, da mesmice, ousou mudar.<br /><br />Mudou de mulher, de casa, de amigos, de trabalho, de cidade.<br /><br />No entanto, nos momentos de solidão, ainda era o mesmo homem triste de sempre.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-26960477100871983682010-06-13T19:54:00.001-07:002010-06-13T19:54:28.429-07:00OportunidadesChegaram ao mesmo tempo no enorme edifício de consultórios e escritórios.<br /><br />Ela se desmanchou em sorrisos ao ver que aquele homem charmoso e atraente lhe deu a preferência para passar pela catraca, no hall de identificação.<br /><br />Um clima de amável e discreta simpatia os envolveu até que entraram no elevador.<br /><br />Porém, ali, a sós, a timidez prevaleceu, fazendo-a baixar os olhos e ocupar-se mecanicamente do envelope que segurava, enquanto ele, também em silêncio, continuava a observá-la.<br /><br />As portas se abriram, enfim, no décimo sexto andar e ele desceu, esboçando um aceno de cabeça.<br /><br />Desolada, ela desceu no décimo sétimo, com a sensação de havia desperdiçado mais uma oportunidade em sua vida.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-59306370483742112592010-06-13T19:53:00.001-07:002010-06-13T19:53:54.526-07:00BrindeAntes de entrar na banheira de espuma, repassou mentalmente todos os detalhes.<br /><br />As flores já estavam no vaso, mudara as velas do castiçal de prata e arrumara a mesa com a toalha branca de linho impecável.<br /><br />Em vinte minutos de cálido repouso na água, sentiu-se renovada. <br /><br />Depois, untou a pele, demoradamente, com óleo perfumado, penteou-se e vestiu-se apenas com o robe de seda vinho.<br /><br />Ao som da música suave, desceu as escadas de sua casa com ar triunfante e distribuiu na mesa as iguarias preparadas.<br /><br />Ergueu, então, prazerosamente, a taça de champagne e fez um brinde à sua solidão.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-90813114168451665362010-06-13T19:52:00.000-07:002010-06-13T19:53:18.108-07:00TelefonemaLigou só para saber se estava tudo bem.<br /><br />Ela se surpreendeu. Mais de um ano se passara sem nenhuma notícia! Achou que ele tivesse tomado outro rumo, se ajeitado na vida, quem sabe até se casado. <br /><br />Como um menino arrependido, ele lhe disse, meio sem graça, que nunca a tinha esquecido, que reconhecia seu erro por sumir sem explicação e que até gostaria muito de reencontrá-la.<br /><br />Foi o bastante.<br /><br />Dormiu como uma rainha e, no dia seguinte, chegou toda perfumada ao encontro marcado.<br /><br />Ele, porém, não apareceu.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-68281552953696192522010-06-13T19:50:00.000-07:002010-06-13T19:52:14.967-07:00Poder de PersuasãoVoltando do mercado, foi abordada, repentinamente, pelo homem baixinho, de bigode aparado e profundas olheiras, que lhe disse estar, enfim, diante da mulher de sua vida.<br /><br />Aquilo não podia estar acontecendo com ela.<br /><br />Rindo muito, disse-lhe que deveria estar enganado, pois era uma senhora casada, mãe de dois filhos, já moços!<br /><br />Nenhum impacto essa informação pareceu causar nele, que seguiu dizendo-se profundamente impressionado com o brilho daqueles olhos e com sua incomparável sensualidade.<br /><br />Enrubescida, ela retrucou, debilmente, que ele não poderia estar falando sério.<br /><br />Mas o homem continuou, bendizendo o acaso que a colocara em seu caminho, discorrendo sobre almas gêmeas e vidas passadas e adivinhando, ainda, que ela era extremamente sensível.<br /><br />Descobriu até que, nos últimos tempos, ela sentia-se sobrecarregada, desvalorizada, sozinha e carente!<br /><br />Isso talvez explicasse o que estava fazendo ali, nos braços daquele desconhecido, em plena tarde de segunda-feira.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-22249049802922867542010-06-13T19:47:00.000-07:002010-06-13T19:50:05.807-07:00Nas mãos de DeusAngustiada, a família aguardava, na sala de espera, o diagnóstico do renomado especialista.<br /><br />Depois de muito tempo, o tal doutor, todo empertigado, despejou sobre aquela gente um palavrório incompreensível.<br /><br />Ficaram sem saber direito se ainda havia esperança.<br /><br />Por via das dúvidas, acharam que sim e juntaram mundos e fundos para pagar a arriscada cirurgia.<br /><br />Abaixo de Deus estava o tal médico, tão cheio de si que parecia até discordar dessa classificação.<br /><br />De nada adiantou tanto empenho. À família, endividada, restou, somentea consciência do dever cumprido. O paciente morreu, como já havia previsto o médico do ambulatório.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-79269212089768351092010-06-13T19:45:00.000-07:002010-06-13T19:46:12.741-07:00No táxiO olhar fixo do motorista pelo espelho retrovisor a fazia estremecer.<br /><br />Ela nunca se enganava. Desde que entrara no táxi, naquela noite chuvosa, percebera alguma coisa estranha no ar.<br /><br />Pensou em ligar para a polícia, fantasiou cenas terríveis, despediu-se mentalmente de seus entes queridos. <br /><br />Passados vinte minutos, pedindo a Deus que intercedesse por sua trágica sorte, percebeu que chegara a seu destino.<br /><br />O estranho homem, então, recusou-se a receber pela corrida e, deixando rolar timidamente duas lágrimas, balbuciou emocionado que ela se parecia muito com sua falecida esposa.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-21424616652902848872010-06-13T19:44:00.000-07:002010-06-13T19:45:42.174-07:00EstrelasUm dia, olharam juntos para a noite e envolveram-se num manto de estrelas.<br /><br />Veio a vida e embaralhou seus destinos, lançando-os para o não-sei.<br /><br />Estiveram em outros lugares, tiveram outros amores, fizeram outras promessas e juras.<br /><br />E as estrelas, imprestáveis testemunhas, continuavam silenciosamente a brilhar.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-60503949069567662282010-06-13T19:42:00.000-07:002010-06-13T19:43:06.209-07:00ComunicaçaoA menininha não falava português.<br /><br />Tampouco eu dominava sua língua.<br /><br />Mas, quando me mostrou seu cavalinho, ela me sorria tão docemente que, sem pronunciar uma única palavra, disse-me tudo...IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-80851859452532016512010-06-13T19:41:00.000-07:002010-06-13T19:42:08.574-07:00Mesa de barNaquela mesa de bar, compartilharam segredos.<br /><br />Filosofaram sobre as agruras da vida e afogaram suas mágoas entre tragos e lágrimas.<br /><br />Lá pelas tantas, abraçaram-se calorosamente e declararam-se amigos até a morte.<br /><br />Depois, pagaram a conta e cada qual tomou seu rumo, sem saber ao menos um o nome do outro.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389019052878621583.post-4556653880410976132010-06-13T19:40:00.002-07:002010-06-13T19:41:22.154-07:00Tempo regulamentarSentia vontade de dizer não, mas acabava dizendo sim.<br /><br />Sentia vontade de ir, mas acabava não indo.<br /><br />Sentia que queria mais da vida, mas acabava dando-se por saciada.<br /><br />Um dia, nada mais disse, nem foi mais a lugar algum.<br /><br />E a vida deu-se por cumprida.IZILDAhttp://www.blogger.com/profile/10808646383378440465noreply@blogger.com0