domingo, 13 de junho de 2010

Bom dia

Deu bom-dia ao espelho.

Ali estava ela, fiel amiga, no diálogo mudo de todas as horas.

Até que não estava mal: ainda de pé, ainda sorrindo, ainda sonhando.

Conferiu-lhe os traços, os sulcos, os dentes e, zombeteira, agitou os braços.

Foi plenamente correspondida.

Nos últimos tempos, depois que os filhos cresceram, passaram a se conhecer cada vez melhor.

Acolhiam-se, faziam planos, trocavam confidências e receitas, divertiam-se, fazendo comentários irônicos ou engraçados acerca de tudo e de todos!

Cumplicidade total.

Esse era, no momento, seu grande amor.

Essa, a mulher que, ao longo dos anos, aprendera a respeitar.

Olhou-a longamente, num misto de admiração e ternura.

Depois, ajeitou-lhe os cabelos e, sentindo-se melhor do que nunca, convidou-a para o café da manhã.

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