domingo, 13 de junho de 2010

O TOQUE

A mão delicada roçou, sem querer, o braço dele.

Um calafrio imediato percorreu sua espinha, desencadeando um quase torpor, que o levou às nuvens.

Que poder era aquele que havia no toque sutil, quase imperceptível, de uma desconhecida, ali em pé, a seu lado?

Nada sabia sobre a moça, mas não conseguia disfarçar o profundo interesse que agora ela lhe inspirava.

Seria capaz de segui-la até o fim do mundo, se preciso fosse, de lutar por ela, de se casar com ela.

Ofereceu-lhe o lugar, mas ela recusou com um sorriso encantador, de pérolas e rosas.

Ensaiou mentalmente algumas frase para iniciar uma conversa, mas achou todas banais.

Nervoso, derrubou a pasta que carregava e abaixou-se para pegá-la. Pôde, então, deleitar-se, por um instante, com a visão daqueles pés tão alvos, tão bem tratados!

Sorriu, novamente, para ela, endireitando-se, desajeitado, no banco.

Em seguida, tossiu algumas vezes e, quando ia, enfim, dizer alguma coisa, percebeu que ela se preparava para descer do ônibus.

Completamente imobilizado pela timidez, acompanhou, através do vidro embaçado, os passos rápidos e decididos daquela que, talvez, pudesse ter vindo a ser a mulher de sua vida.

Em casa, por uma bobagem qualquer, brigou com a esposa e gritou com os filhos.

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