domingo, 13 de junho de 2010

Descompassos

Por pouco não desfalecia de tanto cansaço!

Precisava agora só terminar de preparar a mamadeira; arrumar, para o dia seguinte, o lanche dos meninos e a mesa do café da manhã; trocar a água do cachorro; acabar de recolher os brinquedos espalhados; trancar todas as portas e janelas; cobrir os filhos mais velhos; alimentar o bebê; apagar as luzes; para, então, afundar-se na cama.

Enquanto se deitava, sem fazer barulho para não acordar o marido, repassou mentalmente as tarefas principais do dia seguinte: conversar com a orientadora pedagógica na entrada da escolinha; deixar o bebê no berçário; rever o relatório para a reunião com a filial do Rio de Janeiro; dar uma passadinha, na hora do almoço, no supermercado, para reabastecer a despensa e, no banco, para tirar o dinheiro da faxineira; alterar aquele parecer para incluir as alterações propostas pelo chefe; marcar consulta no pediatra; pesquisar, na biblioteca do escritório, uma saída para o caso da pasta verde; encher o tanque do carro; buscar as roupas na tinturaria; comprar papel-cartão e fitinha colorida para a capa do trabalhinho do dia dos pais; achar um tempo para fazer as unhas e...quem sabe...cortar o cabelo... mudar o visual...

Encolheu-se como sempre em seu cantinho e, meio indefinida, foi entrando, devagar, num imenso palco muito iluminado, onde, sozinha e vestida de bailarina, via-se dançando, sem parar, uma música difusa, para uma platéia lotada de diabinhos, todos com a mesma cara: a do seu marido.

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