Pela manhã, ao se olhar no espelho, admitiu que, a cada dia, ficava mais parecida com ela.
A expressão tranqüila e os vincos no rosto, moldados pelos anos, imprimiam-lhe o mesmo ar de sabedoria e segurança.
Lembrou-se, imediatamente, de como era bom brincar com o pote de botões de todas as cores, formatos e tamanhos e com linhas, dedais e retalhos da caixinha de costura de madeira forrada com tecido púrpura.
Ah! E as infinitas descobertas nas caixas de papelão, guardadas nas gavetas com cheiro de naftalina? Echarpes de seda; livros de oração, com páginas estufadas por flores secas; apliques de renda; vidrinhos coloridos de perfume já vazios; cartas amareladas escritas a pena e até o fascinante baralho italiano de tarô.
Eram objetos sagrados e proibidos, que a curiosidade infantil não conseguia respeitar.
Ainda no espelho, perfumou-se toda de alfazema e sorriu satisfeita.
A seguir, desceu as escadas, exultante, e foi consultar o velho livro de receitas da avó.
Naquele dia, seus netos comeriam bolinhos de chuva.
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