domingo, 13 de junho de 2010

Desnutrição

A moça remexia desanimada as folhinhas de agrião em seu magro prato de salada.

Há dois anos não emplacava um namorado. Sabia que não era feia. Pelo contrário. Cuidava, com afinco, de sua aparência, malhando todos os dias, privando-se de calorias e gastando quase dois terços de seu salário em roupas e comésticos.

Foi então que, esperançosa, avistou o bonitão de terno e gravata que, por vezes, freqüentava o restaurante.

Desta vez, ele parecia esperar alguém, que, em menos de cinco minutos, chegou.

Totalmente embevecido, o homem apressou-se em receber a mulher de meia idade, de carnes e sorrisos fartos e, em invejável enlevo, puseram-se a trocar olhares de explícita felicidade, entremeados de discretos toques de carinho e pequenas gentilezas.

Tudo neles transpirava prazer e encantamento, alegre e avidamente comemorados com chope gelado, filé à parmegiana e uma generosa porção de batatas fritas.

Sentindo-se desnutrida, a moça afastou lentamente o prato repleto de talos verdes e pediu ao garçom um "sunday" de chocolate.

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