A goiabinha mordida, largada displicentemente naquela mureta, abriu-lhe, de imediato, as portas para o quintal de sua infância.
Via-se lá, trepada na arvorezinha engrossada pelo tempo, a escolher as frutas mais arredondadas e maduras. Difícil tarefa, considerando-se a acirrada concorrência dos pássaros, irmãos mais velhos e outros moleques da vizinhança, todos, inegavelmente, mais ágeis e habilidosos.
Restavam-lhe as goiabas quase inatingíveis, dos galhos mais altos e delicados, apenas alcançados por meio de inacreditáveis malabarismos, que lhe renderam muitos tombos e cicatrizes.
Mas nem joelhos e cotovelos ralados, nem choros doídos e frustrações sufocadas, conseguiam deter sua busca pela fruta escolhida.
E, uma vez alcançada, nada se comparava ao prazer de colhê-la com inigualável precisão, olhá-la, demoradamente, com admiração triunfal e, por fim, cravar-lhe a almejada mordida.
Muitas vezes, a fruta estava bichada ou nem era tão boa quanto se imaginava. Outras, ela já se fartara tanto pelo caminho, que não agüentava chegar à segunda dentada. Mas não era isso que importava.
Sua alegria estava em atingir o ponto almejado.
Do alto daquela árvore de lembranças, ficou um momento a olhar para sua vida.
E descobriu, satisfeita, que continuava a colher goiabas.
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